sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Um pedaço de mim...

Nós somos feitos de lembranças, eu com meus 36 anos de idade ainda vivo em meio ao passado. Não, não aquele passado recente, onde tivemos relacionamentos frustrados ou coisa assim, ou até aqueles que deram certo por certo tempo. Eu vivo num mundo onde eu tinha 10 anos, onde meu avô Dante Jacobina me deliciava com Cartola e Dolores Duran, Noel Rosa onde ele me apresentava músicas que ainda menina não sabia o quanto eram preciosidades e iriam fazer o diferencial hoje em dia. Eu vivo num mundo onde Pixinguinha era a cantoria de fim de semana na casa de meus avós. Eu vivo num mundo onde meu avô me dava trocados no leito do Hospital Central do Exército se eu gravasse um versinho de uma poesia ou uma música que ele gostasse. Eu vivo num mundo onde o opala vinho do meu avô era o meu xodó, quando ele passava na vila em que minha bisavó Maria Eugênia e meu bisavô Lourenço moravam e as crianças da rua gritavam "buzina aí Kojak". É, meu avó era o Kojak, careca brilhando, admirado por todos, mas ele era meu, meu avô maravilhoso. Eu vivo num mundo onde ele fazia a barba quando ía me ver só pra não arranhar meu rosto, num mundo onde ele gravava minha voz cantando, num mundo onde ele gravou minha voz com equipamentos modernos pra época desde que eu tinha 10 meses de idade. Eu vivo num mundo onde eu era o centro do Universo dele quando me criou no colo, cuidou do meu umbigo quando nasci e cantava até eu dormir. Esse mundo tinha bombom que ele como diabético não podia comer mas comprava escondido só pra gente, eu como criança inocente não sabia como isso era grave, pra mim era só uma simples brincadeira. Meu mundo com meu avô era cor de rosa, era cor de rosa não, era colorido, era cheio de magia, magia que eu depois de tantos anos ainda não encontrei. Eu só tinha 10 anos quando ele se foi e minha tia Nanci Guiterio me deu a notícia. Eu tava na rua, tinha chegado da Igreja e ela nos levou a pracinha, ficamos sentados no balanço, até que ela nos contou, a mim e ao meu irmão Andre. Custei a acreditar, os vizinhos se assustaram com tamanho escândalo. Doeu, doeu demais não ter mais o meu cojaque, aquele me apresentou cantores maravilhosos, aquele me levava de carro pra passear... E ainda dói. Ele ainda está presente em mim, na minha alma, impregnado, colado, suas lembranças estão ao meu redor. O que de melhor pude herdar foi o oratório dele, todo em madeira, cheio de santinho, alguns com roupas feitas pela mãe dele. Meu xodó, minha vó até hoje quando me liga pergunta "os Santos estão com a luz acesa? Eles não podem ficar no escuro!" Eu digo "sim vó, estão iluminados, todos eles."
Meu mundo depois do meu avô é feito de lembranças boas dos compactos e LPs do meu pai e minha mãe, a loucura pelos Beatles, a MPB que meu pai me mostrou....cresci no meio da música, cercada pelos meus tios Paulo Jacobina, João Vitor, meu padrinho que agradeço imensamente por me mostrar a música de Leon Russel, The Carpenters, Yusuf / Cat Stevens e muitas outras preciosidades, Sabe qual foi meu presente ainda na maternidade? Um compacto de Kate Bush com a música Wuthering Heights com os dizeres "a voz de bebê para o bebê..."e sempre foi assim, meus presentes eram discos de Gilberto Gil entre tantos outros. Com meus tios aprendi a ser fã da saga de James Bond 007, a gostar de Carly Simon - You're So Vain, entre outras...Nobody does it better, tema do filme "The spy who LOVED ME", um hino pra mim.
Ah, me apaixonei pela guitarra, aprendi a gostar de uísque rs (tios loucos) claro eu não era mais criança rsrs... Steve Ray Vaughan, George Benson....rs meu mundo é eclético, minha mãe me fez ouvir Jerry Adriani, Fábio Jr, Wanderley Cardoso, ressaltando que o nome do meu irmão é André por causa do filho deste, tamanha era a loucura da minha mãe...rs The Fevers, Os incíveis, e por aí vai...
Tia Nanci era musa inspiradora, nada e nenhuma mulher era mais linda que ela, eu andava na rua procurando mulher mais linda, mas nunca encontrei...Meu mundo é feito de lembranças com minha prima Paula Jacobina, as confissões, a amizade eterna, as saídas pro baile...as festas na vila, as noites acordadas, os agrados da tia Teresa, os chocolates que ela fazia...
Tia Lourdes Jacobina e sua proteção, Letícia Jacobina,madrinha da mínha filha por ser minha irmã de alma, muitas músicas gravadas em fita cassete rs, éramos apaixonadas por Oasis, Bon Jovi, Guns...meu primo Vítor, meu amigo, que já me deu vassourada, mas pula essa parte...rs
Meu mundo é meu pai que mesmo com tantos defeitos e tantas coisas que podiam ter nos afastado, não afastou, meu pai Luiz Fernando Jacobina, que me deu nas mãos Neruda e Fernando Pessoa, que me deu nas mãos Gibran Khalil Gibran...me ensinou a ler! E hoje escrevo por causa dele, ele me mostrou isso! Mesmo minhas palavras sendo tortas...sem tanta magia e sabedoria como as dos verdadeiros poetas.
Meu mundo, minhas lembranças vem junto com Anna Carolina, que eu cuidei como filhotinha, nunca amei tanto, acho que ela foi o bb que eu mais amei e ainda sofro se ela sofre, tamanha preocupação...meu mundo é minha mãe, minha rainha, minha vó que se foi, seu Lori e seu pandeiro, tio Jorge, sua loucura e o seu "Fernandinha"...não adianta, pra ele eu sempre vou ser uma menina...meu irmão Lucas que nasceu quando eu tinha 17 anos, a choradeira quando me separei dele pra viver a minha vida...Liazinha minha pequena especial, anjo que nasceu há 15 anos...
Hoje vivo dessas lembranças, e essas lembranças me sustentam, como pilares de um edifício...sem elas não sou eu, sem elas não sou inteira, sem elas desabo...sem elas não sou ninguém...

Hoje vivo essas lembranças do passado pra que forte eu siga cuidando do meu presente: Minhas filhas



Fernanda Guiterio Jacobina

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