Passo dias remoendo uma dor que não escolhi, um dia ela simplesmente veio. Não bateu a porta, não me perguntou se eu queria senti-la, ela se instalou e ficou. Tomou conta do meu corpo de tal forma que é impossível controlar, mesmo que eu a repudie, a xingue, faça todas as orações, corra pra todas as religiões ou até negue a existência de Deus, ela não vai embora...
Tento conviver com ela, anos e anos, tentei fazer dela minha amiga, mas foi em vão, ela é descontrolada e mau, a danada quer me deixar no chão, quer me fazer sentir o pior ser humano da face da Terra, a última das mortais, a que cometeu os piores pecados, comandou as piores guerras, quer que eu sinta culpa e derrame lágrimas de sangue.
Essa dor me tira o sono,me seca a boca, me faz contorcer músculos, morder lábios, arranhar paredes. Essa dor só some quando durmo, mas ela é tão ruim que não me deixa dormir. Essa dor me faz ser criança e clamar pela minha mãe, gritar pelo meu pai, me faz ser a pior mãe do mundo, pois viro criança e mal sei me cuidar.
E quem cuida de mim nessa horas? Quem me aponta a luz que não vejo? Ninguém. Quem faz voltar ao normal os braços e pernas adormecidos? Ninguém. Quem me faz as palavras voltarem a boca? Ninguém. Realmente, essa dor é egoísta e me quer só pra ela e só quem a sente e passa dias intermináveis com ela vai saber seu nome...
E há quem diga que não existe, que é somente fruto da minha imaginação, riem, zombam, mas o meu desejo é que essa dor não se aposse do corpo de ninguém como se apossou do meu.
Não sou capaz de desejar tamanha crueldade...
Fernanda Guiterio Jacobina
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